quarta-feira, junho 20, 2012

Uma mulher nunca pergunta o caminho

Gostava de escrever sempre coisas bonitas e relevantes, mas isso exige um estado de espírito muito particular, e eu hoje não estou aqui.
Gostava de estar sempre comigo, mas hoje não estou.
Gostava de ir para casa, mas hoje não sei onde fica.
Podia escrever outra coisa bonita cheia de metáforas sobre protozoários e tecidos fibrosados (assim), mas hoje não me apetece. Hoje não dá. Hoje não quero. Hoje não sei de nada. Hoje só quero ir para casa.
O problema dos nómadas é esse, as raízes levantam-se-lhes com muita facilidade, as tendas voam e os camelos fogem. Quero ir para casa. E que esteja sol, e que não haja malária.
Hoje não estou aqui, não vale a pena baterem à porta que não estou aqui. Ou então batam na mesma, e se eu abrir, agarrem-me e não me deixem fugir, que eu tenho umas contas a acertar comigo.

quarta-feira, junho 13, 2012

Os nomes das coisas

Comunicação.
Quando se fala em comunicação pensamos em escrever, em falar, em discussões por falta de comunicação, em comunicação social, e se tivermos imaginação ainda pensamos em comunicação gestual, braile e várias línguas, reflectimos que em todas as culturas humanas existe comunicação.
Sim senhor, mas quem disse que a comunicação tem que ser entre mais que uma pessoa? No liceu, em Filosofia, aprendia-se que a capacidade de ter pensamentos e reacções mediatas é o que nos distingue dos outros animais, e que esta capacidade vem do facto de termos conceitos. Como temos conceitos (linguagem), podemos formar pensamentos e raciocínios e desta forma compreender coisas por nós próprios. Então pensar é como que comunicar sozinhos utilizando conceitos pré-adquiridos. Por outro lado é-nos muito complicado compreender um raciocínio quando nos falta um dos conceitos envolvidos. Agora imaginemos que não sabemos sequer que existe linguagem. Imaginemos que somos surdos e cegos de nascença. Imaginemos o caos da nossa própria mente e a incompreensão em relação às regras e vidas dos outros. Imaginemos o caos. E agora imaginemos que eventualmente alguém nos consegue fazer compreender a linguagem, e de repente, formando conceitos sabemos onde estamos, onde estivemos ontem, o que temos nas mãos e o que pensamos disso tudo. Uma parte muito grande da psicologia foca-se nisto, porque como seria possível compreender o mundo e a nós próprios sem saber os nomes das coisas?



"w-a-t-e-r. It has a name!" - The Miracle Worker

Glass

"Ma petite Amélie, vous n'avez pas des os en verre. Vous pouvez vous cogner à la vraie vie. Si vous laissez passer cette chance, alors avec le temps, c'est votre coeur qui va devenir aussi sec et cassant que mon squelette. Alors, allez-y, nom d'un chien!"l'homme de verre - Le Fabuleux Destin d'Amélie Poulain

Glasses

Costumam perguntar-me se nunca me canso de metáforas. Não, nunca. O problema é quando elas se cansam de mim. Precisava de umas lentes de metáfora cor-de-rosa (ou de outra cor qualquer) pelas quais ler este capítulo, mas não as encontro. Na verdade até era melhor que fossem escuras, a verdade às vezes queima, faz arder os olhos. Eu tenho uns olhos muito sensíveis.


Diz-se que a verdade (ou era a beleza?) está nos olhos de quêm vê. O que é que acontece se "quem vê" mudar de óculos? A verdade muda? A verdade não muda. As nossas verdades é que mudam, e a verdade é que isso é muito mais relevante do que A verdade. É pena que eu não tenha mudado de óculos também... se calhar está na altura de fazer Lasik.



I am what you see when I think you're not looking. 



sábado, abril 14, 2012

Fuck, I say. Fuck.
Well, I had to say something.