sexta-feira, setembro 08, 2006

Filosofias subterrâneas - Um grão de areia no Universo

O que é que nos torna humanos?

Lembrei-me porque:
Estive a ler uns bocados do blog do Bruno Nogueira. Devem haver centenas de PC’s em Portugal com este nome em alguma parte: num texto, num vídeo, num diário, numa foto... É uma celebridade, e como tal, não é “humano”. Quero dizer, como qualquer celebridade, exceptuando para as pessoas que o conhecem e para aquelas que são ultra fãs, ele é um mito. Não é propriamente real. Mas o blog torna-o muito mais humano, tem uma fotografia do sobrinho bebé, um texto qualquer sobre um jantar de amigos depois de um dia de praia... igual a qualquer outra pessoa (como é óbvio, se pensarmos um bocado...).

Mas:
Já não é a primeira vez que tenho esta sensação.
Quando não sabemos nada sobre uma pessoa (ou, no caso de alguém famoso, quando só conhecemos a “caixa”) elas não são humanas aos nossos olhos, não têm passado presente nem futuro, não sentimos nada por elas, e, se não olharmos com atenção, nem sequer nos dizem nada.
Vivemos num rebanho autêntico, se for preciso até passamos por cima da ovelha da frente para chegar aonde temos que estar (será que temos?). Ás vezes vou no metro e começo a reparar nas pessoas. Nas pessoas que se empurram, e suam e praguejam para conseguir enfiar-se lá dentro à hora de ponta, e que nunca sorriem, como se as mães agora ensinassem os meninos a, para além de não falar com estranhos, também não sorrirem na sua presença.
Aquelas pessoas não são uma entidade única e coordenada, não são um rebanho! Cada uma delas é uma ovelha negra, pelo menos para alguém.
Olho para a senhora que está ao meu lado. Cabelo impecavelmente escovado, penteado e fixado, maquilhagem perfeita, aliança, casaco de marca, saltos altos, expressão séria. Não é expressão neutra, é expressão séria, quase ameaçadora.
De onde vem? Para onde vai? O que faz? Onde cresceu? Tem filhos? É feliz?
Olho à volta, entra ainda mais gente. Já não me lembro qual das pessoas era aquela senhora. É uma delas. Mais uma. Como eu sou mais uma aos olhos de toda aquela gente (pelo menos dos que olham à sua volta).
Ninguém é ninguém. E no entanto toda a gente é alguém. Toda a gente é especial nem que seja para a mãe!

Os outros tornam-nos humanos.
Aqueles a quem aparecemos descalços, em pijama e sem maquilhagem, quer por nós lhes mostrarmos, quer porque conseguem ver sozinhos para além da maquilhagem, real ou imaginária. Porque todos a temos.



Chuva Dissolvente.

1 comentário:

Sara disse...

Estas divagações já podem ser lidas... aqui. As poucas que merecem. Por quem tenha a sorte ou o azar de as encontrar.