sábado, junho 29, 2013

Paris

Fala-se tanto de Paris, eu nunca adorei Paris. Talvez não tenha sido suficientemente feliz das vezes que lá estive. Da primeira deram-me uma casinha de polly pockets e cortaram-me o cabelo. Da segunda preferia ter ficado em casa e ido sair com os meus amigos, em vez de ser uma menina bem comportada e jogar jogos de palavras no carro durante horas intermináveis com os pais e um miúdo pequeno. E sem telemóvel.

A casa do meu avô era pequenina, escura, tinha uma cabine de duche funda como uma banheira e a sala tinha uma janela que dava para a entrada do prédio, para controlar quem entrava e saía. Nós dormimos no sótão do prédio, numas arrecadações ou coisa parecida que faziam de quartos para alugar a imigrantes. Era escuro e metia medo. Num dia fomos à Disneyland, outro à torre Eiffel, e num deles fomos a casa de uma senhora que devia ser da família, usava imenso perfume e nos ofereceu chá demasiado doce em chávenas brancas e douradas. Era simpática, falava muito e chamava chérie a toda a gente. 

Lembro-me sempre de pensar onde andavam escondidos os parisienses todos, porque só via pessoas sem ar de serem de lá.
E dos prédios serem baixos e as ruas cinzentas claras, com muitas àrvores e muitos cães. Aliás foi por isso que me lembrei. Vi uma fotografia de Paris, que não era da torre Eiffel, nem das galerias Lafayette, nem dos Champs Élysées; era de uma rua normal, com prédios baixos e pedras cinzentas e àrvores. E de repente cheirou-me a Paris. À casa e ao rio e a algodão doce e ao perfume da senhora e acima de tudo àquele cheiro próprio que cada cidade tem e de que eu já não me lembrava. 

Sem comentários: